terça-feira, 21 de outubro de 2025 / 16:42
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Quando a inteligência artificial fala sozinha

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Por Flávia Fernandes

O que acontece quando os humanos deixam de ser o centro da conversa? Nas redes, nos escritórios e até nos processos seletivos, algoritmos já conversam entre si, tomam decisões e se avaliam mutuamente. É a nova engrenagem invisível da economia digital, onde máquinas criam, respondem e julgam o que outras máquinas produzem. O que parece eficiência é, na verdade, um jogo de poder silencioso.

Enquanto empresas celebram a produtividade da inteligência artificial, a humanidade começa a desaparecer das decisões. Recrutadores usam IA para analisar currículos escritos por IA. Bots aplaudem postagens de outros bots no LinkedIn. Propostas de negócio são redigidas e avaliadas por softwares que nunca viram um ser humano. O processo avança como uma esteira que já não precisa de condutor.

Por trás do discurso da inovação há um risco que ninguém quer encarar: o esvaziamento do sentido. Métricas viraram bússolas tortas. A busca por curtidas, engajamento e ranqueamento substitui o valor real do conteúdo. A Lei de Goodhart, formulada em 1975, nunca foi tão atual. Quando um indicador se transforma em objetivo, deixa de medir o que realmente importa. O problema é que agora quem distorce o sistema não é mais o humano, e sim o próprio algoritmo.

A consequência é sutil, mas devastadora. Ao terceirizar tarefas intelectuais para as máquinas, perdemos o exercício do pensamento. Quando gestores delegam suas avaliações a um software, deixam de praticar o olhar analítico e a escuta. Quando equipes usam IA para elaborar propostas, renunciam ao aprendizado coletivo que vem do erro, da discussão e da troca. O conhecimento tácito, aquele que nasce da experiência, evapora no calor da automação.

O propósito também se dilui. Ferramentas criadas para apoiar o desenvolvimento humano agora apenas cumprem um protocolo técnico. Avaliações de desempenho viram relatórios sem alma. Processos de seleção se transformam em duelos de robôs, e o que era humano se torna ruído.

A tentação é aceitar o rumo como inevitável. Seria mais confortável acreditar que resistir é inútil, só que há uma diferença entre usar a tecnologia e ser usado por ela. O desafio está em proteger o que ainda nos distingue: o julgamento, a empatia e o sentido de propósito.

Os algoritmos são velozes, mas carecem de consciência. São eficientes, mas não entendem o impacto das próprias escolhas. Quando máquinas decidem por nós, abrem caminho para um mundo em que a eficiência vale mais que a sabedoria.

Não é um futuro distante. É o presente que já começou a decidir sozinho.


Flávia Fernandes
 é jornalista formada pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), professora de língua inglesa e especialista em inteligência artificial pela PUC Minas e Faculdade Exame. Apaixonada por comunicação e inovação, investiga as conexões entre tecnologia, sociedade e o cotidiano.

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