Eu confio no padrão de exportação da nossa carne, mas isso não é bom.
Já se tornou piada – não deveria ter graça- os casos de produtos brasileiros com irregularidades nocivas à saúde. É molho de tomate com pelo de rato, leite com água sanitária, carne com papelão e agora paçoca com fungo. Tudo isso faz o cidadão desconfiar, instintivamente, do padrão de produção dos produtos produzidos aqui.
Por outro lado, eu confio religiosamente nos produtos brasileiros que são exportados, sejam eles quais forem. É a versão remasterizada do pacto colonial: fornecemos os melhores produtos -yes, we can- para que o primeiro mundo os consuma e nos devolva com o selo de importado e um valor elevado.
Vai por mim, grande parte dos “importados” que consumimos, julgando um padrão de qualidade superior, teve origem no Brasil. Mas por que então precisou ‘ir pra fora’ pra ganhar valor?
Dificilmente encontramos, aqui, produtos perfeitos, ou ao menos ótimos. Tá, eles não são ruins, mas também não são excelentes! São bons na medida certa pra não serem ruins, ou seja, estão na média. Afinal brasileiro não valoriza o que é daqui e ainda paga pouco. Vamos mandar o melhor pra quem paga mais – não exatamente paga bem, mas paga melhor que o brasileiro- e o nativo que quiser o produto perfeito que aliene um rim para usufruir do produto brasileiro com selo de importado.
Vamos aos exemplos: aquele trágico pacote de macarrão, chips ou biscoito que você nunca consegue abrir sem rasgar. Se você já conseguiu abrir aquela fitinha vermelha inteira do biscoito recheado corre pra loto e faz uma fezinha. Tem ainda os copos de água – capixabas, meu Deus- que você nunca consegue abrir a tampa de alumínio até o fim, sem rasgar. Sobra sempre pro dedão furar aquela barreira antes de saciar a sede. Gringo toparia fazer isso?
Agora o clássico: maionese Heinz! Até então importada da Espanha era tão perfeita que sequer precisava de acompanhamento para os mais aficionados. Após um sumiço das prateleiras ela ressurge com nova embalagem e… com uma nova fórmula fabricada no Brasil. Eles alteraram a linha de produção para o Brasil! Mas a nova embalagem é bacana o suficiente pra dar o tom importado da decisão.
A maionese continua sendo uma das melhores do mercado, mas não é perfeita. É assim que funciona. Experimente comer banana ou papaia em Paris, é quase um deleite colhido no Éden.
Sempre que posso, estimulo minha família a consumir produtos locais, como fomento as pequenas empresas. Frutas da feira, laticínios das cooperativas, carne sempre fresca do açougue do bairro. Me sinto parte importante do fortalecimento da economia local. Contudo, agora também, sinto-me como um marido traído. Sempre desconfiado que não terei o melhor assim que eles encontrarem quem pague um pouco mais, porém sujeitando-se aos caprichos do comandante do zepelim.
Mas pra esse complexo de vira-latas parece não haver solução, a gente grita, chora esperneia. Faz manifestação “arroz, feijão, saúde e educação” pra no final jogar fora o sofá.