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Artigo: Quando vamos aposentar a velha BR 101?

 

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Na década de 70, Tony Tornado cantava que “a gente vive, a morre, na BR 3…”. Aqui no Espírito Santo a população está quase que só sofrendo e morrendo na e com a BR 101.

O drama das nossas estradas federais não é de hoje.  Não é um problema inventado na última eleição, ou um daqueles fatos que sempre existiu e com o qual sempre convivemos, mas que por um motivo ou outro se resolve botar uma lupa e um amplificador para se ganhar mais, ou para se provocar desvantagem em alguém ou a algum grupo. Desde que a BR 101 (trecho Rio-Vitória) foi construída na década de 1950 sua capacidade e viabilidade estrutural nunca foi seriamente corrigida ou atualizada. Os veículos que rodam nesta via em 2017, na verdade, estão circulando por uma via pensada e projetada para um modal que levou em consideração as tecnologias e condições existentes em 1950! São 67 anos de uso.

Para ter ideia da disparidade, pense comigo: se a BR 101 fosse uma pessoa e a Reforma Previdenciária do Temer fosse aprovada hoje, ela não estaria preocupada. De tão desgastada e maltratada ela já pode se aposentar em qualquer condição! Se passar mais três anos sem duplicação ganha direito a aposentadoria compulsória vitalícia de desembargador e ministro de qualquer tribunal superior. Vai que é por isso que estão empurrando com a barriga a duplicação…

Mas voltando ao tema, a tecnologia de transportes avançou, os carros ficaram mais potentes e velozes, os caminhões passaram a levar cargas maiores, mais pesadas, mais perigosas e por distâncias maiores. O fluxo de trânsito passou a ser mais intenso e constante. Mais constante que isso só a morte. A cada evolução de cada variante que compõem o universo de uma estrada, e até mesmo a piora nos índices de qualidade da manutenção da BR, os quantitativos de mortos foram aumentando cumulativamente. O transporte de passageiros com horários marcados, o comércio de rochas ornamentais legais e ilegais, o agronegócio, o transporte de inflamáveis, a extração de madeira para fabricação de papel, a falta de serviços públicos que demanda o deslocamento do interior para a Grande Vitória, a má sinalização para atender o fluxo turístico, o acúmulo populacional nas bordas das rodovias, a falta de proteção as Áreas de Proteção Ambiental que margeiam as rodovias. Tudo isso sempre criou um caldo denso para que as pessoas morressem como moscas nas rodovias capixabas, em especial na BR 101 que corta o estado de norte a sul.

Quando uma concessão de bem público envolve doadores contumazes para campanhas de políticos e para grupos políticos, se observa o que tem acontecido na ECO 101. Um contrato “para fazer” e provavelmente lavar dinheiro sem dar o devido retorno social a população, mas com altíssima capacidade de mobilizar políticos e seus grupos em operações abafa. E o que a ECO 101 trouxe para nós até agora? Postos de pedágio para arrecadação, alguns outdoors, algumas propagandas, alguns poucos empregos e muitos corpos em caixão devido a omissão coletivo.

Agora sabemos quem são os donos  da ECO 101, do consórcio que se nega a realizar o que se comprometeu a fazer por contrato, mesmo não tendo executado o mínimo até hoje. Cabe a nós cobrar das empresas majoritárias que não tem sede no ES e das não minoritárias que tem sede no estado, a resolução das causas dos corpos que depositamos nos cemitérios todos os dias. Porque Consórcio e Empresa não transitam em rodovia planejada para 70 anos atrás arriscando a vida. Só as pessoas fazem isso. Mas as pessoas jurídicas (consórcio, empresa, Estado) viabilizam a construção de uma sociedade melhor, se bem usadas. Depende de nossa postura. Ou vamos esperar a BR completar 101 anos para fazer algo?


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Paulo Rogério Candido

Sociólogo, Servidor Público e Presidente PPL 54 Vitória  

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4 COMENTÁRIOS

  1. Muito bom! Essa situação está tão desgastante, estamos nos sentindo impotentes, é como se nossas vidas fossem literalmente nada para a concessionária e para todos que podem e devem exigir mudanças e intervir por nós.

  2. Muito importante e oportuna análise. O que nos deixa indignados é que em três anos, a concessionária ECO 101 arrecadou R$ 550 milhões com pedágio para fazer melhorias na BR-101, entre elas a de duplicação. Os parlamentares estaduais e federais, o governador, agência reguladora, ministro da pasta responsável e presidente, se revelam provocadores em todos os capixabas dos instintos mais primitivos, o que parece ser a única saída diante do descaso e assalto deliberado aos bolsos dos contribuintes. Tudo nos enoja.

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