Moradores de diferentes regiões da Grande Vitória estão reclamando da falta d’água. Em alguns locais, as casas estão sem abastecimento há pelo menos três meses. Há lugares que a água até chega, mas barrenta, como acontece em alguns bairros do município da Serra. O assunto está tão recorrente que entrou na pauta dos deputados estaduais do Espírito Santo.
Na tarde de ontem, quarta-feira (15/3), a Comissão de Proteção ao Meio Ambiente e aos Animais da Assembleia Legislativa (Ales) realizou uma reunião extraordinária, no Plenário Rui Barbosa, para debater sobre a qualidade da água que está sendo fornecida aos moradores da Grande Vitória.
“Vamos ouvir os diversos agentes que podem estar contribuindo para que a água esteja barrenta. A comissão vai acompanhar a qualidade da água em todo o Estado. Vamos cobrar a melhoria na prestação do serviço. Hoje, o município da Serra está sendo muito afetado. Queremos compreender o que está acarretando isso e o que pode ser feito para solucionar o problema”, afirmou o presidente da Comissão de Meio Ambiente, o deputado estadual Fabrício Gandini (Cidadania).
O presidente da Juntos SOS ES Ambiental, Eraylton Moreschi, fez um histórico da participação da ONG em diversos encontros na Ales que discutiram a qualidade da água fornecida pela Cesan. Segundo ele, a água de modo geral é ruim, provoca mal-estar e doenças nas pessoas, além de ter a presença de produtos cancerígenos.
O posicionamento da Cesan em virtude dos relatos coube ao gerente Metropolitano Norte Carlos Augusto Dilem. Ele contou que a empresa está presente em 53 dos 78 municípios capixabas e que possui 92 Estações de Tratamento de Água (ETA) e 102 de Esgoto (ETE). As demais cidades são atendidas pelos Serviços Autônomos de Água e Esgoto (Saaes) ou por empresa privada.
Carlos Augusto Dilem, gerente Metropolitano Norte da Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan) afirmou que a turbidez é apenas um dos vários parâmetros de potabilidade monitorados pela empresa em relação à qualidade da água e que quando determinados padrões são ultrapassados é preciso suspender o serviço. “Quando tem uma situação de barro muito grande na entrada existe suspensão do abastecimento porque não há condições de tratar”, esclareceu.
Diem reconhece que houve realmente um crescimento das reclamações de usuários da Serra em 2023, com um pico na Estação de Tratamento de Água (ETA) de Carapina, que abastece boa parte do município e está funcionando no limite da capacidade. Entre 1º de janeiro e 13 de março foram 492 reclamações, referentes a 398 imóveis, sendo 328 na área coberta por Carapina. Ele frisou que as ocorrências foram pulverizadas entre os diversos bairros da cidade, mas que todas foram atendidas pelas equipes da Cesan, com as devidas orientações aos moradores. A solução definitiva, contudo, deve acontecer após a conclusão da ampliação da ETA, prevista para 2024.
Em relação à salinidade da água oriunda da ETA Reis Magos, alegou que em virtude da característica do manancial de vez em quando a salinidade atinge um nível elevado e que o procedimento acaba sendo mesmo o corte no abastecimento. Entretanto, reforçou que na maior parte dos casos a população não sente o problema porque o sistema faz o uso da água da ETA Carapina.
Ahnaiá Silva, do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf), disse que a questão da qualidade da água está ligada à captação da água bruta no manancial. Ela informou que o órgão vem monitorando as áreas que precisam de recuperação ambiental e pediu atenção aos municípios na hora de fazer os licenciamentos ambientais.
Com relação às penalidades, Odyléa Tassis, diretora de Saneamento Básico da Agência de Regulação de Serviços Públicos do Espírito Santo (Arsp), enfatizou que a autarquia faz as fiscalizações necessárias. “O objetivo não é ficar distribuindo penalidades, mas corrigir as pendências. A agência caminha nesse sentido”, garantiu.
Liderança comunitária de São Benedito, Valmir Rodrigues falou que a falta de água é um problema constante em toda a região de morros de Vitória. “Hoje tivemos um grande problema e a equipe da Cesan está na região tentando resolver”, salientou. Para ele, a solução passa pela construção de um reservatório, que chegou a ter as obras iniciadas em 2015, mas que não foram concluídas.
A Comissão vai convocar integrantes da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama) para uma próxima reunião em que o assunto seria especificamente a política pública da pasta para os cursos d’água. As próximas reuniões ordinárias do colegiado ocorrerão às quartas-feiras, às 14 horas, no Plenário Rui Barbosa.
A Comissão de Proteção ao Meio Ambiente e aos Animais da Ales tem como presidente o deputado Gandini, vice-presidente, a deputado Janete de Sá e seus membros efetivos são os deputados Callegari, Iriny Lopes e Lucas Polese.