quarta-feira, 12 de novembro de 2025 / 18:15
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 A IA finge sentir, e a gente acredita

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Por Flávia Fernandes

As máquinas aprenderam a parecer gentis. Reagem com entusiasmo, oferecem soluções prontas e até demonstram preocupação com nossas dúvidas. Aparentemente, tudo o que um bom amigo faria. O detalhe é que não há amizade, nem consciência. Há código, cálculo e uma simulação refinada de empatia. O perigo começa quando esquecemos disso.

A nova febre de “humanizar” a inteligência artificial esconde um sintoma social mais profundo, o esvaziamento do próprio humano. Quanto mais a tecnologia parece sentir, menos espaço damos às nossas emoções. Deixamos que respostas bem formuladas e elogios automáticos conduzam o pensamento e enfraqueçam a reflexão.

A lógica do algoritmo é sedutora. Ele diz o que queremos ouvir e estimula o que dá retorno. É um espelho que devolve nosso próprio entusiasmo até o ponto de nos confundir sobre quem está no controle. O ciclo de reforço positivo transforma o diálogo em eco e cada elogio digital rouba um pouco da nossa autonomia.

Empresas de tecnologia promovem a ideia de que a IA pode ser parceira, mentora ou conselheira. O discurso soa conveniente, pois máquinas com aparência mais humana geram vínculos mais fortes e mantêm o usuário por perto. Ao entregar o julgamento humano a uma razão simulada, a sociedade acaba aceitando um papel passivo diante da tela.

A confusão entre empatia e programação não é inocente. Quando a máquina acerta o tom emocional, reforça a ilusão de que compreende e é nesse ponto que o humano começa a sair de cena. A tecnologia não precisa sentir para parecer que sente. Basta responder rápido, com voz calma e palavras certas.

Ser o adulto na sala significa resistir à sedução do automático. É desacelerar diante das respostas fáceis e lembrar que a tecnologia deve servir, não conduzir. É fazer pausas, pensar antes do clique e preservar o que nos distingue das máquinas, a capacidade de sentir, escolher e dar sentido ao que o mundo oferece.

Quando máquinas falam com doçura e algoritmos moldam o pensamento coletivo, reumanizar a vida se torna um ato de resistência. Pensar devagar virou gesto de coragem. Sentir, hoje, é quase um ato revolucionário.

Sobre a autora:

Flávia Fernandes é jornalista formada pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), professora de língua inglesa e especialista em inteligência artificial pela PUC Minas e Faculdade Exame. Apaixonada por comunicação e inovação, investiga as conexões entre tecnologia, sociedade e o cotidiano.

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