sábado, 20 de dezembro de 2025 / 11:01
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Trabalho em disputa com as máquinas

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Por Flávia Fernandes

A cada estudo sobre automação surge a impressão de que o emprego tradicional está sendo desmontado em silêncio, um componente de cada vez. A McKinsey, consultoria global que assessora governos e grandes empresas em decisões estratégicas, publica análises que ajudam a dimensionar esse cenário. Quando seus dados apontam que mais da metade das horas de trabalho pode ser automatizada, o tema deixa de parecer hipotético. O confronto entre a eficiência dos sistemas inteligentes e o valor do trabalho humano já faz parte do cotidiano e pressiona instituições e profissionais a repensarem caminhos.

A promessa da inteligência artificial encanta pela velocidade com que processa dados, identifica padrões e executa tarefas com rigor técnico, mesmo assim, por trás dessa vitrine sofisticada, existe um vazio que nenhuma máquina preenche. A leitura de contexto que sustenta escolhas difíceis segue ligada à experiência humana. Isso não nasce de saudosismo ou recusa às inovações. É resultado das próprias pesquisas que mostram que as habilidades mais valorizadas pelos empregadores atravessam funções automatizadas e também atividades que dependem de sensibilidade, análise e entendimento das nuances de cada situação.

O ranking criado pela consultoria ajuda a entender o mapa dessa transformação. Funções que lidam com informação, contabilidade e programação aparecem entre as mais pressionadas por substituição. Em outra ponta, atividades que exigem coordenação corporal e leitura espacial seguem com ritmo de mudança mais lento. A robótica avança, só que falha ao tentar reproduzir a flexibilidade adaptativa de um trabalhador experiente em ambientes imprevisíveis.

Há um detalhe relevante. Habilidades de orientação, negociação, apoio emocional e cuidado seguem preservadas. Não por romantização do trabalho humano, mas porque envolvem nuances que nenhum algoritmo traduz com fidelidade. São papéis que requerem escuta, interpretação e resposta em tempo real diante de situações que não cabem em planilhas.

Os números da procura por especialistas em IA reforçam a direção dessa transição. Computação e matemática assumem fatia maior, seguidas por gestão e operações financeiras. Ainda assim, todas as áreas sentirão algum tipo de abalo até 2030. Parte significativa das competências exigidas será remodelada. O profissional que não acompanhar essa atualização corre o risco de virar espectador de um mercado que avança sem pausa.

A demanda por profissionais que sabem atuar em sintonia com sistemas inteligentes cresce de forma constante. Rotinas repetitivas deixam de ocupar o centro das atividades. Ganha importância quem formula perguntas relevantes, interpreta informações e decide com fundamento. A IA aparece como apoio que amplia capacidades, preservando o papel humano na condução das escolhas e na construção de significado.

O potencial econômico estimado para a automação chega à casa dos trilhões, mas essa conta não fecha sem preparo. Empresas que desejam capturar esse valor precisam criar condições reais para integração tecnológica. Sob esse cenário, o trabalhador continua assumindo papel central. A diferença é que agora divide a cena com um parceiro que não dorme, não descansa e não esquece. Cabe a nós usar essa vantagem a favor da sociedade e não contra quem sustenta o trabalho com sensibilidade e responsabilidade.

O debate sobre o futuro profissional deixou de ser exercício futurista. Está acontecendo agora, em cada ferramenta adotada no escritório, em cada processo revisado, em cada decisão que define o que vale a pena manter sob comando humano. A tecnologia avança. Nós também.

Sobre a autora:

Flávia Fernandes é jornalista formada pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), professora de língua inglesa e especialista em inteligência artificial pela PUC Minas e Faculdade Exame. Apaixonada por comunicação e inovação, investiga as conexões entre tecnologia, sociedade e o cotidiano.

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