Nathan Loose Kuipper e Lisânia Soares Miranda, ambos de 19 anos, são dois talentos que surgiram em escola pública de Colatina e conseguiram se destacar com a oportunidade que a educação e o Centro para o Desenvolvimento da Matemática e Ciências da Fundação Getulio Vargas (FGV CDMC) ofereceu a eles e hoje cursam Ciência de Dados e Inteligência Artificial na Escola de Matemática Aplicada (FGV EMAp).
O caminhos dos estudantes foi repleto de muito estudo, superação e conquistas acadêmicas em olimpíadas de conhecimento. Foi por meio dessas vitórias que receberam o convite para participar do Programa Seleção de Talentos do CDMC, que ocorreu em Guarapari em maio de 2024 e que reuniu dezenas de jovens talentosos em uma imersão intensa no universo da Matemática e de áreas afins. Com a participação destacada, foram convidados a prestar o vestibular da FGV e, ao serem aprovados, conquistaram a oportunidade que lhes garantiu uma bolsa de estudos para estudar em uma das instituições mais respeitadas do Brasil, com direito a bolsa-auxílio e moradia no Rio de Janeiro.
“Quando recebi o email que o CDMC me convidando para participar da Seleção de Talentos, não acreditei que poderia ter essa oportunidade de estudo inimaginável. Meu sonho de vida passou a ser aluno da FGV”, conta Nathan.
“Mesmo se eu passasse em uma universidade pública, eu não teria como me manter. Então, ser bolsista do CDMC realmente abriu portas que os braços da minha mãe e da minha família não poderiam ter aberto”, enfatiza Lisânia.
Da lavoura de café ao sucesso acadêmico
“Apesar de não terem formação acadêmica, meus pais sempre me incentivaram nos estudos, pois sabiam que a educação tem o poder de transformar vidas”, afirma Nathan. | Imagem: arquivo pessoal
Nascido e criado na zona rural de Colatina, Nathan foi habituado desde pequeno ao trabalho árduo nas lavouras de café de sua família. Seu dia a dia incluía estudar pela manhã em uma escola perto de sua casa que adotava a “pedagogia da alternância”, um modelo que focava no conhecimento agrícola, preparando os alunos para seguir a vida no campo. À tarde, logo após o almoço, ele se dedicava a capinar, fertilizar e plantar.
“A gente tinha matéria de agropecuária aqui, o que pessoas de cidade grande não têm. Todo o conhecimento era voltado para eu continuar na roça”, lembra Nathan.
Mesmo em meio a essa realidade difícil, ele sempre foi incentivado pelos pais, que acreditavam no poder da educação como ferramenta de transformação. Após o dia no campo, e mesmo estando cansado, ele se sentava à noite para estudar. “Eu sabia que a educação seria a chave para um futuro diferente”, conta.
Apesar da pedagogia focada em práticas do campo, Nathan se destacou nas áreas de exatas, principalmente na matemática. Foi com incentivo da professora de matemática Dedima Schulz, da escola estadual Felício Melotti, que ele conquistou medalhas e chamou a atenção do CDMC. Após prestar vestibular da FGV, Nathan confirmou seu talento conquistando uma vaga para o curso que ele escolheu.
“Sempre tive uma paixão pela tecnologia e por computadores, e o curso de Ciência de Dados e Inteligência Artificial me oferece exatamente o que eu buscava: a chance de trabalhar com o que realmente me inspira”, afirma.
A vida no campo, cuidando dos animais e das plantações de café, agora faz parte do passado e Nathan sonha em construir um futuro promissor como cientista de dados | Imagem: arquivo pessoal
A mudança para o Rio de Janeiro foi um grande passo em sua trajetória. Embora a adaptação à grande cidade tenha sido um desafio, Nathan se sentiu acolhido pela estrutura proporcionada pelo CDMC e pelas oportunidades que agora estavam ao seu alcance. “Quando cheguei ao Rio, a cidade parecia enorme, tinha muita gente, muito barulho, mas aos poucos estou me acostumando, sei que aqui minha vida vai mudar para melhor”, conta Nathan.
Dedicado aos estudos, Nathan diz que já fez muitos amigos na capital fluminense, e que, apesar da rotina intensa, encontrou tempo para explorar um pouco da cidade, como dar umas voltas na praia e conhecer o Cristo Redentor. “A experiência tem sido incrível. Tenho saudades de Colatina e do café que eu produzia com meu pai, que é muito melhor do que costumo tomar por aqui”, brinca.
Jornada de recomeços
O Rio de Janeiro, cidade em que hoje reside para estudar na FGV EMAp, é o sétimo local de residência de Lisânia. Nascida em Belo Horizonte, ela precisou se mudar algumas vezes, o que acabou forjando uma mulher forte, destemida e com habilidades de comunicação e adaptabilidade. Mas nem sempre foi assim.
“Em 2015, me mudei de cidade três vezes no mesmo ano, frequentando três escolas diferentes. Isso foi bastante complicado, porque eu tinha 9 anos e, por um período, fiquei com medo de fazer amigos, pois sabia que poderia perdê-los logo em seguida”, lembra Lisânia. A constante mudança, embora difícil, lhe proporcionou experiências que, com o tempo, se transformaram em aprendizado. Uma das mais transformadoras foi quando, aos 15 anos, ela se mudou sozinha para Colatina para estudar no Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), campus de Colatina.
“Em Ibatiba, onde eu morava na época, embora tivesse Instituto Federal, não havia o curso que eu queria, técnico em informática. Então, minha mãe me encorajou a ir, alugou um quartinho pra mim na cidade”, lembra.
Lá, participou de iniciação científica e entrou para a equipe Titãs da Robótica, do Instituto, que ganhou o prêmio na competição da Mostra Nacional de Robótica em 2024. Sua equipe também ganhou o prêmio de “melhor escola pública” por seu robô em nível estadual. Além de seu envolvimento acadêmico, Lisânia teve a oportunidade de participar de dois intercâmbios internacionais, o primeiro em Malta, onde ela aprimorou o inglês, e o segundo, para Portugal, focado em robótica.
“O RobotCraft é um programa intensivo de aulas e estágio voltado a alunos da graduação. Eles abriram uma exceção para mim, que ainda estava no curso técnico. Foi uma experiência incrível, que me fez realmente me apaixonar pela robótica”, afirma.
Lisânia teve a chance de estudar ao lado de pessoas de diferentes partes do mundo, como França, Líbano, África, Ásia e Europa, todas com o mesmo objetivo: aprimorar seus conhecimentos em robótica e tecnologia. “Eu pude aprender com colegas de diversas culturas e isso ampliou muito minha visão de mundo. As disciplinas eram mais avançadas do que eu já conhecia, então precisei aprender de forma independente e rápida, mas a ajuda dos colegas de outros países foi fundamental para meu desenvolvimento”, lembra a estudante. Sua dedicação e paixão por conhecimento também se refletiram em suas conquistas na OBMEP, que a levaram a ser convidada para participar da Seleção de Talentos.
“Quando recebi o convite, não acreditei que algo tão grandioso pudesse acontecer comigo. O CDMC não só me proporcionou a chance de estudar na FGV, mas também me deu a confiança de que eu poderia alcançar meus objetivos mais altos”, afirma Lisânia.
Hoje, Lisânia se dedica com afinco ao curso de Ciência de Dados e Inteligência Artificial na FGV EMAp e está cheia de planos sobre seu futuro promissor.
“Quero usar a tecnologia para transformar a sociedade. A robótica pode contribuir para solucionar muitos dos problemas atuais, como a crise climática e também contribuir para esforços humanitários, auxiliando países sem acesso a recursos ou em situação de conflito”, conclui.
